terça-feira, 10 de março de 2009

O BANDEIRANTE ANTÔNIO GONÇALVES FIGUEIRA E VÁRIOS FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A COLONIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO NORTE DE MINAS

* José Geraldo Mendonça


Ele nasceu em Santos, Vila do Litoral de São Paulo. Ele era filho primogênito de Dona Maria Gonçalves Figueira (de Itanhaem) e Manoel Afonso Gaia (de Santos).
Ali se transformou em um sertanista famoso, distingui-se sobremaneira na campanha contra os índios ANAIÓS, não somente pela sua bravura, mas também suprindo as poucas forças por astúcia e estratagemas. Durante as suas caçadas dormia caçado para ser o primeiro a levantar e entrar em combate.
Sua primeira viagem ao que hoje se constitui no Norte de Minas foi quando participa na famosa expedição das esmeraldas, do lendário bandeirante Fernão Dias Paes Leme, em que ele saiu de São Paulo no dia 30 de outubro de 1672, com o seu genro Borba Gato e dois filhos. O Figueira nessa expedição era ajudante de ordem de seu cunhado Matias Cardoso de Almeida lugar tenente da expedição.
Outras expedições que também saindo de São Paulo e da Bahia tinham como destino as Minas Gerais:
A de Francisco Bruza de Espinosa e Apicuêlta Navarro que saindo da Bahia chegaram até a região hoje conhecida como Jaíba – 1.553.
Sebastião Fernandes Tourinho – 1.572/3. Antônio Dias Adorno, que chegou em Itacambira, e chegou a colher algumas pedras de esmeraldas na Lagoa Vapabuçu, que ele levou ao Rei de Portugal – 1.676.
Outros também empreenderam viagens a Minas, saindo de São Paulo: André de Leão Glimer – 1.601.
Matias Cardoso de Almeida de 1.672-4, Lourenço de Caetano Taques – 1.668, Antônio Rodrigues Arzão 1.693.
E ainda outros como:
Bartolomeu Bueno da Silveira
Miguel Garcia de Almeida
Antônio Dias de Oliveira
Manuel João Camargo
Padre João de Faria Fialho
Todos esses saíram de São Paulo para Minas Gerais entre os anos de 1.694e 1.698.
Só que nessa viagem que o Figueira fez com a expedição das esmeraldas, tanto ele como o seu cunhado Matias Cardoso desligaram da expedição aqui no Norte de Minas aborrecidos, porque eles rodavam, rodavam e voltaram sempre ao mesmo lugar (hoje conhecido como 7 passagem), a expedição das esmeraldas ficou 7 anos em Minas.
Da 2ª vez, já em 1.691, eles passaram aqui no Norte de Minas, rumo a capitania de Pernambuco, onde iriam fazer a guerra contra o Zumbi de Palmares. O Matias veio na frente trazendo 600 homens e ficou esperando por Figueira na barra do Rio das Velhas (hoje Barra de Guaicuí).
Figueira veio como guia da expedição do Cel. João Amaro, que também trazia 600 homens. Ele veio aproveitando a trilha aberta quando da passagem da expedição das esmeraldas, e aproveitando os pontos de pouso construídos pelo Fernão Dias Paes Leme: Lopo, Viturana e Sumidoro.
Capitão Figueira veio sem parada para descanso até encontrar com Matias na barra do Rio das Velhas.
Dali em diante eles seguiram juntos até Recife na capitania de Pernambuco, onde encontraram o terceiro grupo, o de Domingos Jorge Velho, que havia vindo pelo mar e que também havia trazido outros 600 homens.
Eles então trataram de traçarem as estratégias para essa guerra.
Guerra fria, bem calculada para fazer prisioneiros (escravos).
Zumbi comandava um exército de 30.000 homens: negros escravos fugitivos e Índios ANAIÓS rebelados (segundo Dr. Hermes).
A luta contra Zumbi durou sete anos. Zumbi que depois da queda de Macacos, naquela batalha histórica onde cerca de 500 homens de seu exército despencaram daquele paredão da serra da Barriga, e que durante muitos anos, foi relatada por escritores da época como sendo um suicídio coletivo e que Zumbi teria morrido junto (1.694).
Esses escritores estavam com a cabeça cheia de histórias da antiguidade, e basearam em fatos ocorridos naquela época remota, em que os judeus para não caírem nas mãos dos romanos se lançaram dos paredões de pedra da fortaleza de Massada século I.
Só a partir de 1.960 é que historeografia com a verdadeira história passou a ser aceita, no meio cultural do país.
Depois da queda de Macacos, Zumbi chefiando um pequeno grupo, lutava despreparado para se manter vivo o seu ideal de liberdade. Como esse punhado de bravos passaram a viver escondidos na mata e praticando táticas de guerrilha.
Só que numa dessas escaramuças um de seus homens de confiança foi capturado pelos homens da força dos bandeirantes.
Os homens dos bandeirantes torturaram o prisioneiro, Antônio Soares e o convenceram a levá-los escondidos até o esconderijo de Zumbi.
Quando Antônio Soares chegou em frente ao Zumbi, depois de cumprimentá-lo, o apunhalou a traição executando assim o seu antigo chefe, em 20 de novembro de 1.698.
Os homens dos bandeirantes tomaram o seu corpo, arrancaram-lhe um dos olhos, cortaram a sua mão direita, cortaram o seu pênis que foi enfiado em sua boca, cortaram a sua cabeça que foi salgada e apodreceu espetada na ponta de uma estaca em uma praça pública do Recife.
Terminada assim a guerra, chegou a hora de dividir cordialmente os prisioneiros entre os vencedores.
O Figueira tocou 700 prisioneiros escravos (segundo Dr.Hermes).
Segundo (Isidoro Coelho de Azevedo) o Figueira negociou na partilha, abrindo mão de 500 prisioneiros em troca de todo o rebanho de bovinos e eqüinos capturados dos negros.
Tanto que Matias recebeu 1.200 prisioneiros escravos.
Figueira então desistiu de voltar a São Paulo, veio até Tranqueiras, de lá tomou a trilha aberta por eles quando da passagem rumo a Recife,
Quando ele atingiu o Rio Pardo, parou, escolheu um local na bacia do Rio e montou ali a sua fazenda Brejo Grande hoje povoado, distrito da cidade de Rio Pardo.
Ali na sua fazenda Brejo Grande ele plantou o primeiro canavial, instalou o primeiro engenho de cana e o primeiro alambique e foi ali que foram produzidas as primeiras rapaduras, as primeiras tachadas de açúcar mascavo e a primeira aguardente (cachaça) no hoje estado de Minas Gerais.
Quando ele regressou de Palmares ele trouxe um grande rebanho de bovinos e eqüinos capturados dos negros e que na negociação da partilha ficou para ele (segundo Isidoro Coelho Azevedo).
Ele passou então a criar os seus animais na Fazenda Brejo Grande. Só que essa região era habitada por grandes nações de índios TAPUIAS que começaram a incomodar o Figueira com suas carreiras e emboscadas. Ele então preparou uma nova expedição com aval do vice-rei, e partiu para dominar aqueles indígenas. Ele mostrou a sua bravura, combatendo e vencendo grandes nações de índios contando apenas com nove armas de fogo (segundo Dr. Hermes). Ele seguiu em frente, sempre rumo ao poente, chegou às margens do Rio Gameleira (hoje terras do município de Monte Azul), onde combateu e venceu uma grande nação indígena e montou ali a sua fazenda Olhos D’Água.
Um pouco mais na frente ele enfrentou e venceu, depois de muitos dias de luta, a maior nação indígena da região, que tinha a sua aldeia aí nas margens do rio Jacu das Piranhas (a aldeia Brejal), montou aí a sua fazenda Boa Vista depois de vencidos os índios. Nessa luta ele conseguiu fazer centenas de prisioneiros (escravos). Continuou em frente às margens do Rio Verde, outra luta, outra vitória, contra os índios dali. Ali ele montou a sua fazenda Jaíba (hoje cidade de Jaíba). E esse nome dado por ele à sua fazenda passou a denominar toda essa região mesmo depois de ser montado ali em Mocambinho o maior projeto de irrigação de toda a América Latina.
Nas lutas que ele travou com todas essas nações indígenas, lhe rendeu centenas de prisioneiros (escravos).
Porque ele era especialista em caçar índios desde lá de São Paulo. Ali na sua fazenda Jaíba ele recebeu a doação de uma sesmaria, via alvará do dia 12 de abril de 1.707, de três léguas de comprimento por légua e meia de largura, na cabeceira do Rio Verde, na sua margem esquerda.
Figueira fugindo da região palustosa do Rio Verde instalou a sua fazenda à margem direita do Rio Vieira, no altiplano, local onde hoje está edificado o H.U. Hospital Universitário. Aí na sede de sua fazenda ele construiu a casa residencial, currais, demais instalações e uma pequena capela em louvor a Nossa Senhora.
O padre Antônio Cordeiro de Ávila morador de Papagaios (hoje Curvelo) é quem frequentemente vinha celebrar em sua capela.
Também o padre Antônio Mendes Santiago fazia visitas regulares a sua fazenda dos Montes Claros, e celebrava também aí em sua capela.
Ele era da freguesia de Santo Antônio de Itacambira. Segundo o escritor Diogo de Vasconcelos teria sido ele o padre Antônio Mendes Santiago, o responsável pela construção de centenas de igrejas e capelas em todas as fazendas e povoados por toda essa região, ampliando a prática da fé católica conforme o mesmo escritor.
Outro padre também fez parte da história da fazenda dos Montes Claros, foi o padre Teotônio Azevedo.
O terreno salitroso e as magníficas pastagens nativas indicaram a Figueira o rumo a seguir (a pecuária).
O regime pastoril ali se esboçou como uma sugestão dominadora dos Gerais.
Segundo comentário de Euclides da Cunha que acrescenta, nem faltava para isso sobre a rara fecundidade do solo, um elemento essencial, o sal gratuito nas baixadas salobras dos barreiros.
Constitui-se desta maneira favorecida a extensa zona de criação de gado, que já no alvorecer do século XVIII, dominava toda essa região do Norte de Minas, indo até Goiás, passando para o outro lado do Rio São Francisco, margem esquerda, que naquela época ainda era considerado território de Pernambuco.
Desenvolveram desde o primeiro momento a criação de gado por toda essa região.
A região que era rica em pastos nativos colaborou para a expansão da pecuária.
Além disso, era uma região muito saudável isso colaborou, mostrando ali um gado sempre muito gordo e sadio, e as vacas procriavam com muita rapidez e regularidade. Por isso em muito pouco tempo a criação de gado já dominava toda essa região do Norte de Minas.
Ele era de muita visão, pois logo que chegou à região, colocou uma turma de homens, alargado a picada que eles abriram quando da suas passagens ali rumo à capitania de Pernambuco. Derrubaram matas construindo ali uma estrada acessível para passar com as suas boiadas rumo a Tranqueiras, na Bahia, para negociar ali o seu gado nessa que era a região mais populosa da Colônia. Essa estrada que ele abriu ligando a sua fazenda dos Montes Claros a Tranqueiras, na Bahia, foi denominada “Estrada Nova”, 1.709.
Essa sua estrada Nova passava pela sua fazenda Brejo Grande no Rio Pardo. Hoje o único trecho desta estrada que ainda existe está aí em cima da serra. Ela começa aí em frente a cidade de Monte Azul e vai até Rio Pardo. A região aí em cima da serra é lindíssima. Esse trecho da estrada Nova aí em cima da serra poderá ser transformado em uma excelente atração turística.
Figueira também abriu estradas ligando a sua fazenda dos Montes Claros até Pitangui, Serro e às outras vilas de bacia do Rio da Velhas.
No início o gado era levado e comercializado nessas regiões consumidoras. Com o passar do tempo os tropeiros passaram a virem carregados de sal das regiões produtoras de “Casa Nova”, “Pilão Arcado”, até a sua fazenda dos Montes Claros, aí a carga de sal era vendida ao Capitão Figueira, e eles carregavam com carne de sol para levar para o Nordeste.
Ele passou a abater o gado aí na sua fazenda, as carnes eram salgadas, colocadas para curtir em grandes gamelas de madeira (maceira). Depois as mantas de carne eram colocadas ao sol para secar em jiraus, de varões de madeira. Produzindo assim a carne de sol (Jabá).
Os porcos gordos também eram abatidos, o toucinho, as banhas e a carne: lombo e pernis eram salgados.
Depois enrolavam os panos de toucinho colocando dentro as banhas e as carnes. Tudo era bem amarrado formando uma peça fechada. Os tropeiros vinham de todas as regiões até a fazenda dos Montes Claros para comprar as carnes para levarem para as suas regiões.
Esse sucesso da criação de gado nessa região atraiu para esse lugar aqui nosso Norte de Minas, muita gente contribuindo assim para o povoamento de toda a região.
O rei de Portugal contribuiu com essa ocupação, distribuindo em 1.707, 20 sesmarias nessa região.
Entre os irmãos de Figueira que receberam sesmarias podemos citar:
I.Manoel Afonso Gaia -
Homônimo de seu avô, morou primeiro em Cachoeira, Bahia. Ali se casou, sendo também o Capitão-Mor da vila. Conseguiu a sua sesmaria também em 1.707. Para cá se transferiu com mulher e 7 filhos, onde se fixou definitivamente, tendo falecido depois dos oitenta anos de idade deixando em nosso meio numerosa descendência, principalmente na cidade de Brasília de Minas, dele provindo os Gaia, ali domiciliados até hoje. Muitas fazendas possuiu o Manoel Afonso, mas a sua sesmaria era a fazenda “Tabua”, que se transformou em um povoado com esse mesmo nome. Hoje as suas terras já foram subdivididas entre vários proprietários.
II. Pedro Nunes Siqueira –
Também sesmeiro cujas terras se situam na vertente do Rio Pacuí, hoje pertencentes ao grupo Montes Claros Diesel S.A. e são chamadas de Campo Azul. Pedro era capitão de ordenança do Rio São Francisco, e aqui deixou grande descendência.
III.Miguel Gonçalves Figueira –
Ele dedicou primeiro a mineração no serro, em cujo mister se tornou riquíssimo. Mudou em 1.707 quando recebeu sua sesmaria para junto de seus irmãos, sua sesmaria limitava com seu irmão Pedro.
Mais chegou a ter seis enormes fazendas das quais cada uma de per si já constituía em um respeitável latifúndio. Não era um esbanjador, entretanto era um grande cidadão, côncio de suas obrigações sociais. De uma só vez, doou 70 gramas de diamante aos padres para a construção do Curado de Bom Jesus de Macaúbas (hoje um colégio de freiras).
Os padres ficaram de tal maneira agradecidos com aquela doação e tanta generosidade que arranjaram o casamento da bela jovem Leonor Pereira Abreu, sobrinha do padre Manoel Amorim, com o ricaço já bem avançado em idade.
IV.João Gonçalves Figueira –
Também sesmeiro no Rio Verde, sua sesmaria era a fazenda “Araras”, hoje pertencente a Ademar Figueiredo (Nozinho Figueiredo) e Ilídio dos Reis (segundo Dr. Hermes).
Abandonou a pecuária pela mineração de ouro e diamantes em Serro Frio, fazendo justamente o caminho inverso de seu irmão Miguel.
Entretanto seus filhos continuaram com a criação de gado na sua fazenda Araras. Entre eles: Lourenço Caetano Figueira, Antônio Gonçalves Lara e o genro Agostinho Costa Nogueira.
Entre os cunhados de Figueira podemos citar: o Cel. João Peixoto Veigas, que era casado com sua irmã Dona Maria de Neves, Atanásio Cerqueira Brandão, casado com Dona Catarina Siqueira, Matias Cardoso de Almeida, casado com Dona Inês Gonçalves Figueira.
Dentre as não aparentadas conseguimos os registros apenas das presentes pessoas: Estevão Pinheiro que adquiriu as fazendas Olhos D’Água, Boa Vista e Jaíba do Capitão Figueira, e que deixou grande descendência na cidade de Mato Verde, o capitão de Cavalos Belchior dos Reis de Melo, que foi o primeiro proprietário da fazenda Ribeirão, e Domingos Carneiro, que foi o proprietário da fazenda Riachinho, todas duas no hoje município de Monte Azul (segundo Isidoro Coelho Azevedo).
A Brejo Grande, sua fazenda na Bacia do Rio Pardo, não foi encontrado registro sobre a quem ela foi vendida.
Havia também outros sesmeiros na região (pois eram 20 sesmarias) que desapareceram por falta de registro.
Assim como muitas outras pessoas que se instalaram aqui no Norte de Minas, atraídos pelo sucesso alcançado pelo capitão Figueira na criação de gado.
Esses proprietários dos currais do Rio Verde criaram os primeiros povoados nessa região.
Eles foram os povoadores de Montes Claros e toda essa região, daquilo que é hoje o Norte de Minas.
Por isso se considera os Figueiras e aparentados como os Colonizadores do Norte de Minas.
Enquanto que seu cunhado Matias Cardoso de Almeida, que também havia participado da guerra contra Zumbi em Palmares, veio com seus 1.200 escravos, que conseguiu na partilha após a guerra.
Ele veio também até Tranqueiras de lá tomou o rumo de Currais dos Figueira (hoje Brumado) e de lá tomou o rumo do Rio São Francisco, onde fundou Morrinhos (hoje Matias Cardoso), Amparo e São Romão, além de outras pequenas povoações nos barrancos do Rio, como Porto de Salgados (hoje Januária) abrindo assim a estrada do São Francisco.
Aí em Morrinhos seu filho Januário Cardoso de Almeida, construiu a majestosa Matriz.
Ele também atraiu parentes para o alto sertão do São Francisco. O seu sobrinho Salvador Cardoso de Oliveira que era casado com Dona Maria da Cruz, fundador da fazenda Pedras de Baixo (hoje cidade Pedras de Maria da Cruz).
O Pedro Cardoso de Oliveira, que era filho de Salvador Cardoso de Oliveira e Dona Maria da Cruz, foi o fundador da fazenda Urucuia, e colonizador daquela região e São Romão.
Aí na região do pantanal de Pandeiros, ele desenvolveu uma grande criação de gado, com a participação de muitas outras pessoas que ficaram no anonimato por falta também de registro, e que se instalaram ali. Aí no barranco do Rio ele instalou um grande abatedouro de gado. As carnes eram salgadas e expostas em jiraus de varões de madeira ao sol na beira do Rio para atrair a atenção dos barqueiros que navegavam pelo Rio.
As barcas (carrancas) que vinham de Cachoeira, Bahia, carregadas de sal para abastecer essa região de criação de gado, dali até Goiás. E voltavam para o Nordeste carregadas de carne de sol.
Esse comércio ribeirinho de sal era feito no começo pelos tropeiros que traziam o sal das regiões produtoras de Casa Nova e Pilão Arcado e depois de Margarida, para Cachoeira, e dali o sal era levado rio acima pelas carrancas até o porto de salgados, para abastecer os lambedouros desta região até Goiás, e voltavam carregados de carne de sol para abastecer o Nordeste.
Com a chegada da estrada de ferro, o movimento mudou de Cachoeira para Juazeiro e o sal para abastecer essas regiões passou a vir de Aracajú e Mossoró no Rio Grande do Norte.
Também no Rio São Francisco as coisas mudaram. Em 1.852 foi montado o primeiro “Vapor” o “Saldanha Marinho”, em um estaleiro no rio das Velhas.
Esse vapor navegou durante 29 (vinte e nove) anos pelo Rio das Velhas. Em 1.871, o governador da província de Minas, dona do vapor, autorizou sua decida pelo Rio das Velhas até sua foz, entrar no Rio São Francisco e navegar até a sua foz no Oceano Atlântico.
Ele então desceu o rio, parando em vários Portos de cidades ribeirinhas para abastecer, e fez escala no Porto de Juazeiro em 4 de fevereiro de 1.871, e continuou descendo o Rio até Boa Vista em Pernambuco (hoje CORIPÓS ou Santa Maria de Boa Vista), porque não poderia continuar descendo o Rio por causa da série de cachoeiras que há no Rio abaixo dali. De Boa Vista ele voltou a Juazeiro, onde permaneceu ancorado a espera da decisão que estava sendo tomada no Rio de Janeiro para a criação de uma companhia de navegação no Rio (Viação Brasil).
Enquanto ele estava ancorado aí no Porto de Juazeiro, estava sendo montado ali em um estaleiro improvisado, o Estaleiro Jovino, um outro vapor que havia sido adquirido no estaleiro de Ponta da Areia, no Rio de Janeiro e o seu transporte até Juazeiro durou 4 anos, entre transporte marítimo, ferroviário e por fim de carro de bois.
Esse outro vapor era idêntico ao nosso Vapor Saldanha Marinho que teve a mesma procedência.
Esse vapor o Presidente Dantas tinham características idênticas: roda do meio, com motor mono-cilíndrico, idêntico comprimento, calado e largura. Eles foram os primeiros vapores a navegarem no Rio São Francisco.
Naquela época a companhia Baiana com sede em Juazeiro, na Bahia, chegou a ter 15 vapores, várias chatas, rebocadores e lanchas.
Já a companhia Mineira com sede em Pirapora chegou a ter 12 vapores, várias chatas e alguns rebocadores.
Naquela época se fazia viagens regulares de Juazeiro a Pirapora, e vice-versa, transportando passageiros e todo tipo de carga.
Os vapores contribuíram grandemente para o desenvolvimento do Norte de Minas e principalmente para o desenvolvimento das comunidades ribeirinhas.
Os Portos de Juazeiro e Pirapora eram ligados a outros centros do sul do país e todo Nordeste por estradas de ferro (conforme José Bergamini).
Figueira também havia ligado por estradas a sua fazenda dos Montes Claros com as suas outras fazendas Olhos D’Água, Boa Vista e Jaíba, assim como com os seus parentes no barranco do rio São Francisco.
Depois que ele vendeu as suas três fazendas: Olhos D’Água, Boa Vista e Jaíba para o Estevão Pinheiro, ele resolveu deixar a sua fazenda dos Montes Claros nas mãos de seu filho André Gonçalves Figueira e voltou para sua vila natal, Santos, para viver o resto de seus dias, perto de seus amigos e parentes. Ali também ele teve uma fazenda e morreu aos 68 anos conforme o Professor Arquiminio Altamiro Pires.
Em 1.736, o Rei de Portugal designou o Martinho Mendonça para governar a província de Minas em substituição ao Gomes Freire, com a incumbência de cobrar o 5º de todos os negociantes da província: negociantes em qualquer ramo, até artesãos.
Antes o 5º era cobrado apenas dos mineradores e comerciantes do ouro.
Como a produção de ouro na província caiu drasticamente, o governo de Portugal instituiu a cobrança do 5º para todos para não deixar cair os rendimentos da coroa em sua Colônia de Além Mar.
Para cobrar o 5
º o Martinho Mendonça organizava uma escolta armada para acompanhar uma autoridade que iria fazer a cobrança em determinada área.
A primeira cobrança foi na Barra do Rio das Velhas.
A escolta de 40 homens fortemente armados acompanhavam o juiz de Papagaios (Curvelo) André de Souza Flores. Só que eles foram recebidos à bala pelo Cel. Antônio Tinoco Barcelos e seus homens.
Eles foram obrigados a votarem com uma quente, outra fervendo, e de mãos vazias.
O Martinho então aprendeu a lição porque a escolta organizada para vir à bacia do Rio Verde, na fazenda dos Montes Claros foi muito maior.
Aqui eles também foram recebidos à bala pelos homens de André Gonçalves Figueira. Mais eles resistiram ao combate, venceram e prenderam o André Gonçalves Figueira. Também confiscaram tudo de valor que encontraram (segundo pesquisas feitas pelo Dr. Hermes; já o Diogo de Vasconcelos só fala que não havia registro daqueles acontecimentos).
O André posteriormente foi deportado para Angola.
Com a prisão de André a fazenda dos Montes Claros ficou entregue aos agregados da fazenda até a vinda de outro filho do Capitão Figueira, o sargento-mor Manoel Ângelo Figueira.
O sargento- mor Manoel Ângelo Figueira era o primogênito do Capitão Figueira, e foi ele que negociou a venda da fazenda dos Montes Claros para o Alferes José Lopes de Carvalho em 1.758.
O padre Teotônio Azevedo já vivia aqui no Norte de Minas, foi quem secretariou o 2º proprietário da fazenda dos Montes Claros em 1.769, na doação do patrimônio para a construção da nossa igreja Matriz em louvor a Nossa Senhora e São José. Só que essa igreja foi construída muito distante e onde o Capitão Figueira havia construído a sede de sua fazenda dos Montes Claros. A sede construída por ele foi justamente atraz de onde hoje se encontra construído o Hospital Universitário Clemente de Faria – HUCF; já a igreja Matriz construída pelo Alferes José Lopes de Carvalho, foi justamente onde hoje se encontra a nossa Matriz apesar dela já ter sofrido duas reconstruções nesse período.
Nessa ocasião a fazenda dos Montes Claros recebeu a visita do visitador do Sertão Alto, o Ilmo Padre Silvestre da Silva Carvalho e seu coadjutor padre Francisco de Medeiros Cabral.
Posteriormente o padre Teotônio passou a celebrar na igreja matriz de Formigas.
Foi ele quem assentou um cruzeiro às margens da estrada “Nova” que o Figueira abriu ligando a sua fazenda a Tranqueiras na Bahia.
Em volta desse cruzeiro, floresceu o povoado de Sanharó e que foi mais tarde em 1.710 dizimado pela epidemia de varíola (bexiga).
O padre Teotônio (segundo o padre Newton Caetani de Angelis), era quem guardava os livros com a história da igreja até então em nossa região. Depois que a varíola vitimou inclusive o padre Teotônio, todas as casas daquele povoado foram queimadas inclusive a do padre Teotônio.
Com isso toda a história da igreja e da população de nossa região até então foi destruída, isso conforme o padre Newton que fala que o padre Teotônio era um estudioso e também um escritor.
O Alferes José Lopes de Carvalho construiu a sua nova residência bastante próxima da nova igreja Matriz.
Então aí próximo da Nova Matriz se formou rapidamente um povoado com a construção de dezenas de casas residenciais e comerciais, formando assim o povoado de Formigas.
Segundo o Dr. Hermes sem demora essa área em volta da nova igreja Matriz foi povoada de negros fugitivos, índios acuados, mineiros cansados de perseguições frustradas. Sesmeios que construíram casas para terem onde se hospedarem dia de missa e de festa, comerciantes e também pessoas que fugiam de outras regiões, como Miguel Domingos fugindo dos ataques dos índios papudos de Itacambira e também da febre tifo que glaçava ali naquela região.
Essa riqueza extraordinária dessa região (segundo Augusto Lima Jr.) explica como não obstante sua posição remota, a grande distância dos dois grandes centros: São Paulo e Salvador, Bahia, despertavam tanto interesse nas pessoas que por aqui passavam, atraindo-as para uma fixação definitiva.
A nossa Matriz foi elevada a categoria de freguesia, por decreto de 14/07/1.832, tendo como filial o curado de Bom Jesus de Macaúbas.
Mais somente em 1.835 foi que recebemos o nosso primeiro vigário padre Antônio Gonçalves Chaves, que veio provisório por dois anos.
Formigas já havia sido elevada a categoria de vila (13/10/1.831).
O padre Chaves tomou de amores por nossa vila. Foi eleito vereador por três mandatos consecutivos, presidente da câmara, tendo governado a nossa vila por 12 anos, e se elegeu a deputado provincial.
A 3 de julho de 1.857, pela lei nº. 802, a vila de Formigas foi elevada à categoria de cidade (cidade de Montes Claros).
A festança realizada no dia da elevação da vila a cidade, não tem registro desse regozijo da sua população pelo acontecimento. Mesmo a tradição oral pouco transmitiu, até nossos dias. Sabe-se apenas que a banda de música Euterpe Montesclarense, criada um ano antes pela Dona Eva saiu às ruas pela primeira vez para festejar o acontecimento.
Poucas vantagens nos trouxeram essa transição. Pois a nossa vila já gozava de todas as regalias de cidade: era independente em política administrativa, era cabeça de comarca, com juiz de direito e juiz de paz municipal, possuía cartórios, etc.
Daí o fato relativo às festanças ter se apagado tão rapidamente da memória dos Montesclarenses.
A mudança do nome de Formigas para “Montes Claros” veio de encontro de uma velha aspiração dos formiguenses, conforme se lê em ata no livro de registro da câmara de 26 de julho de 1.844.
O presidente propôs que existindo duas vilas com o mesmo nome de Formigas na província de Minas, o que causava desvio de ofícios e outros papéis, por isso ser conveniente que se dirigisse à assembléia provincial por intermédio do governo, para mudar o nome de Vila de Formigas para Vila dos Montes Claros.
Em 1.903 os padres brancos, Premonstratenses, foram designados para vigários de nossa Matriz. Primeiro vieram os cônegos Carlos Vincat e Francisco de Paula Mureaux. O cônego Vincat imprimiu em nossa paróquia um cunho nunca visto.
Nessa época estavam acontecendo movimentos na região para sediar o bispado que seria criado no Norte de Minas.
O primeiro movimento foi do pessoal de Januária liderado pelo Manuel Ambrósio e Antônio Nascimento, com o apoio do núncio apostólico e o jornal “A Luz”.
Entretanto os padres premonstratenses de Montes Claros tendo a frente os padres Bento e Maurício Gaspar, iniciaram um movimento para Montes Claros sediar o novo Bispado.
O D. Lúcio recém indicado para o bispado de Paracatu, além dos deputados Camilo Prates e Honorato Alves participaram da campanha. Foi esse movimento movido pelos padres premonstratenses que resultou na criação de nosso Bispado.
Os padres premonstratenses eram vibrantes, criaram jornal, trouxeram as irmãs para fundar o Colégio Imaculada e foi um padre premonstratense Cônego Jerônimo Lambin que projetou e construiu a nossa Catedral. Ele chegou ao Brasil em 4 de dezembro de 1.929, da Abadia Dom Senhor Isac. Em 1.914 foi construído o palácio episcopal.
E em 1.918 iniciou a construção do seminário, que foi inaugurado em abril de 1.920, hoje demolido para construção de mais uma loja do Bretas.
Em 7 de março de 1.911, pela bula “Comisum Humilitat Nostrae”, o D. João Antônio Pimenta foi designado 1º Bispo de Montes Claros, já que o nosso bispado havia sido criado pelo papa Pio X, pela bula ” Postulat Sane” em 10 de dezembro de 1.910.
Do casamento de Antônio Gonçalves Figueira com Dona Isabel Ribeiro Aguiar, que era filha de Manoel Cardoso Aguiar e Dona Francisca da Silva Teixeira, lhes renderam os seguintes filhos, conforme nos informa Taques e Nabiliaquia:
1.Manoel Ângelo Figueira, sargento-mor, casado com Dona Isabel Caetano Leite de Azevedo.
2.Maria Inácia da Silva – casada com Manoel Andrade e Almeida
3.Francisca Ângela Xavier Silva - casada com Isidoro José
4.Miguel Gonçalves Figueira
5. José Antônio Gonçalves Figueira
6.Córdula Maria de Jesus – casada em primeiras núpcias com Luiz Ribeiro Mendonça e em segunda com Salvador Gomes Freire
7.André Gonçalves Figueira.
Em carta ao Dr. Hermes Augusto de Paula, Tauny fala da existência de mais duas filhas, Dona Domingas e Dona Rita e mais um filho que ele não conseguiu identificar.


Fontes:


VASCONCELOS, Diogo L.P. História Antigas de Minas Gerais
TORRES, João Camilo de Oliveira. História de Minas Gerais
SILVA, Gutemberg Mota. Minas Colonial
LIMA JÚNIOR, Augusto de. A Capitania das Minas Gerais
D`ANGELO, Jota. Pelos Caminhos de Minas
BASTANI, Tanus Jorge – O escravo da Coroa
PAULA, Hermes Augusto de – Montes Claros sua História, sua Gente, seus Costumes
AZEVEDO, Isidoro Coelho – Andanças de Minas Gerais.
DANGELIS, Newton Caetane – História da Igreja no Norte de Minas

* mendonca_josegeraldo@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. Não encontrei em nenhuma das fontes do artigo a relação de Antônigo Gonçalves Figueira e o fim do Quilombo dos Palmares.

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