* José Geraldo Mendonça
Quando Antônio de Souza explorava a chapada Diamantina, ele localizou várias áreas onde poderia montar algumas fazendas para produzir alimentos para alimentar o seu pessoal. Ele então decidiu montar umas fazendas na região.
Para isso ele mandou no seu lugar-tenente Elpídio à colônia portuguesa de Celta, norte da África, conquistada em 1415, para contratar pessoal para trabalhar em suas fazendas. Ele então veio a Cabrália com o seu amigo Elpídio. Ali ele contratou navios dos Corsários Holandeses os carreteiros do mar para efetuar as viagens para ele. Além dos operários o Elpídio teria que comprar outros itens para se montar as fazendas como animais, etc.
Na viagem o Elpídio levou com ele grande quantidade de ouro e diamantes para usar como moeda nas operações. Em Celta o Elpídio procurou um velho amigo de ambos que o ajudou a conseguir um local para se hospedar. Ele se hospedou com uma família lá de Celta, gente muito abastada que era de inteira confiança, desse seu amigo. É que o Elpídio tinha com ele uma fabulosa fortuna em ouro e diamantes que ele usaria para negociar com os comerciantes locais.
O seu novo amigo e hospedeiro ajudou-o a contatar e selecionar as 326 famílias de negros necessárias para a montagem das fazendas da Chapada. Teriam que ser agricultores experimentados, e pastores de animais. Concluindo essa etapa, ele partiu para comprar os animais. Foi uma tarefa árdua, pois ele queria uma quantidade de animais que só era possível conseguir comprando de várias fontes produtoras. Mesmo assim ele conseguiu comprar 50 navios de bovinos. Para acomodar os animais no porto, e fazer o embarque dos mesmos, foi preciso construir currais e embarcadouro. Pois ali nunca havia exportado animais. Comprou também 10 navios de suínos. 10 navios de caprinos e ovinos. Outros de animais como jumentos, galinhas, patos, marrecos, galinha de Angola (cocá), cavalos e éguas.
Passou então para a compra de sementes de: arroz, feijão de corda, esse até hoje largamente cultivado em todo o nordeste. De algodão: ele comprou o algodão rim de boi, assim chamado porque a sua semente tem o mesmo formato de um rim de boi, e o crioulo, que tem a sua semente preta, pequena, e sem lã. A semente de mamona para os negros produzirem o azeite para as suas lamparinas. E finalmente a cana-de-açúcar.
Só que quando ele viu a cana de açúcar em um engenho das proximidades de Celta, ele pode ver quanta coisa mais ele precisava comprar. Aí ele encomendou a um fabricante um engenho de cana, de madeira, mais demonstrado para facilitar o transporte do mesmo para a Chapada, comprou um carro de boi também desmontado, e aí foi preciso comprar três juntas de bois amestrados, com os seus arreios para tocar tanto o engenho como o carro de bois.
Aí veio a parte mais difícil a aquisição dos grandes tachos de cobre, para o fabrico da rapadura e o açúcar mascavo.
Os fabricantes de tachos de cobre eram pessoais nômades que viviam sempre viajando, de lugar em lugar. Ele teve que viajar por vários lugares para conseguir comprar a quantidade de tachos que ele queria. Foi bom porque ele acabou conhecendo outras vasilhas fabricadas por muitos deles como o alambique de cobre para a fabricação da água ardente, e várias outras vasilhas de uso para as cozinhas das casas, como tachos pequenos, panelas, caçarolas, pratos, copos, colheres e garfos, assim como facas de vários tamanhos. Foi uma jornada árdua, mais ele conseguiu comprar muitas coisas. Dinheiro não faltava, pois o material que ele havia levado com ele era muito valioso. Aí ele teve que contratar mais 36 famílias de especialistas em fabricar açúcar mascavo e água ardente.
Essa jornada de Elpídio em Celta durou 11 meses. Nesse período a ajuda dos seus amigos e hospedeiros foi muito importante para ele. Porque facilitou para ele contatar os negociantes dos diversos ramos porque os seus amigos eram pessoas influentes em toda a Colônia de Celta e vizinhança.
Aconteceu, porém que nesse período que ele ficou hospedado com o casal de Celta, ele acabou perdidamente apaixonado pela bela Samira, filha do seu hospedeiro.
O casal fez o maior gosto com a união dos dois. Pois o Elpídio era um homem forte, de muito boa aparência, e, além disso, educado e rico. A Samira era uma bela moça, e muito prendada.
Quando o Elpídio terminou a sua missão em Celta, chegou a hora de voltar à Chapada.
Aí o casal que o havia hospedado durante esses 11 meses para ficar perto da filha única e querida, ele resolveu, vender tudo lá e viajar com o Elpídio e a Samira para o Brasil. Eles vieram em um dos últimos barcos fretado por eles.
Quando o Elpídio chegou à Chapada o Antônio de Souza já havia montado 40 fazendas com o pessoal que ele havia mandado. Estava naquela fase final de construção dessas suas 40 fazendas: casas, currais, apriscos, chiqueiros, igrejas e casas de engenho. O engenho e o carro de bois que ele comprou estavam servindo de modelo para os seus carpinteiros fabricarem outras para se montar um em cada fazenda.
Os carpinteiros de Antônio de Souza inovaram, fabricaram outros engenhos tocado a água aproveitando a fartura de água da Chapada.
Os carros de bois fabricados pelo modelo que ele havia trazido era um carro quadrado, leve e de se puxar com uma única junta de bois. Os carpinteiros de Antônio de Souza criaram então um modelo comprido que permitia transportar madeiras compridas, e que deveria ser puxadas por 3,4 ou mais juntas de bois iguais aos que ainda hoje rodam na nossa zona rural. Para acomodar a família da esposa de seu amigo. O Antônio de Souza construiu uma outra fazenda, a Boninal.
Essa fazenda Boninal acabou se transformando na fazenda mais importante da Chapada. O seu canavial era muitas vezes maior do que os das outras fazendas. A casa do engenho tinha um engenho tocado a água e outro tocado a bois.
Tinha oito tachos acentados nas fornalhas, e ainda três alambiques.
Era a maior fábrica de açúcar mascavo e água ardente da Chapada.
Ali também estava montada a maior e mais organizada carpintaria.
Ali eram fabricados engenhos, carros de bois, e também as tinas e os tonéis para o armazenamento e embalagem da água ardente.
Por tudo isso a Boninal era uma verdadeira cidade, pois cada família tinha a sua própria casa. E mesmo o número de famílias morando ali era muito maior, pois o sogro de Elpídio voltou a Celta, duas vezes para conseguir mais ferramentas, material e operários especializados.
Elpídio construiu uma casa para a sua família em Lençóis. Até construir a sua casa ele esteve morando com o Antônio de Souza em sua casa, onde já morava antes de se casar.
De Lençóis a Boninal, era uma pequena distância, por isso era fácil para o casal está sempre com seus sogros lá na Boninal. O seu sogro era um excelente empresário, organizado, atento a tudo e de muita visão. E ele a cada dia ficava mais apaixonado pelo Brasil.
Aí nasceu a filha do casal, Elpídio e Samira. Uma menina forte e linda. Ela puxou mais as características do pai. Tinha pele clara, olhos verdes e cabelos castanhos e bons, igual ao do pai.
O Antônio de Souza batizou a pequena Maria Rosa, estreitando ainda mais os laços de amizade com o amigo. E foi sempre assim a pequena Maria Rosa tinha uma estreita relação com o poderoso Antônio de Souza. Ele tinha sempre um carinho muito grande por ela. Ele contratou professores na Europa a preço de ouro para vir dar aulas para ela, ensinando-a inclusive, o inglês e o francês.
Ele contratou um maestro da cidade de Florença, para ensinar música e ensina-la a tocar violino.
Ela era tratada por todos como uma princesa. Entretanto ela sentia muito a ausência de uma pessoa da sua idade, com quem pudesse compartilhar as suas confidências.
Então conseguiu com seu padrinho que o seu curso fosse partilhado com outras moças da sua idade.
O Antônio de Souza fazia todos os seus caprichos. Convidou então algumas jovens para partilhar com ela no curso de música. Ele adquiriu mais instrumentos para que as outras jovens pudessem aprender tocar. E foi assim que o maestro Honório organizou uma turma muito boa de meninas, com violinos, flautas e cravo. Para abrilhantar algumas apresentações públicas, que ele organizava, ele organizou também um coral com 30 jovens. E assim conseguiu que a Maria Rosa tivesse entre elas as amigas que ela tanto sonhava. Ela era alegre, vibrante, cheia de energia. Estava sempre cantarolando ou dando risada. E foi sempre assim.
Ela era uma criança maravilhosa. Quando ela era adolescente a senhora sua mãe veio a falecer. Mesmo com o seu pai viúvo, eles continuaram morando na mesma casa. O seu pai era o administrador geral do seu padrinho, por isso mesmo, estava sempre viajando. O seu padrinho dava para ela a maior assistência.
E assim ela cresceu. Nas missas da padroeira elas tocavam e cantavam durante as celebrações abrilhantando as solenidades religiosas. Quando ela completou os seus 18 anos o padrinho ofereceu a ela como presentes uma viagem à Europa. Ela aceitou desde que ele a levasse. E foi assim que ela conheceu a Europa. O seu padrinho levou-a a visitar as principais cidades da Europa. Ela visitou Londres, Madri, Paris e Roma, a cidade eterna.
Em Paris, a cidade Luz, ela visitou museus, teatros e aquilo que ela mais queria livrarias. Ele adquiriu para elas centenas de livros de romances, os mais famosos da época. Ele comprou para ela, vestidos caros, jóias de grande valor, sapatos, bolsas, enfim, tudo que ela via e gostava ou achava bonito. Foi uma viagem inesquecível, tanto que nasceu ai um romance entre eles. Ela se surpreendeu completamente apaixonada pelo “seu Antônio”. Ele ficou deslumbrado com aquele mundo de carinho que ela passou a dedicar a ele. Antes de voltar ao Brasil, eles foram ainda a Amsterdã, pois era com os holandeses que ele tinha as maiores relações de negócio.
Lá em Amsterdã, ele comprou para ela, todas as mobílias, no estilo mais moderno e requintado, para a sua casa em Lençóis.
De volta ao Brasil, entretanto eles continuaram como dantes. Muito amigos, mais ela continuou morando com o pai. Só que de vez em quando, de uma forma bem discreta, ela dava uma fugida a casa dele para desfrutar dos seus carinhos. Ela era muito discreta e cuidadosa. Mesmo assim o seu pai acabou descobrindo.
Só que ao invés de brigar com ela, ele aprovou inteiramente o romance deles.
Nessa época os soldados do exército português de D. João III, foram até a chapada para destruí-lo. Só que avisado que ele foi por um dos homens que trabalhava como batedor dos militares em Grão Mogol, ele pôde armar uma armadilha para eles, na serra das leiras, onde 113 soldados morreram na emboscada.
Com aquela derrota fragorosa dos soldados frente aos jagunços de Antônio de Souza, os que sobreviveram, voltaram correndo para o forte em Grão Mogol.
A notícia da derrota dos soldados correu como um rastilho de pólvora.
Assim em poucos dias Lençóis encheu de garimpeiros de vários lugares, para cumprimentar o Rei da Chapada Diamantina e festejar com ele aquela vitória importante. Porque os soldados até então tinham destruído dezenas de acampamentos de mineração, com a morte de centenas de garimpeiros. Aí eles aproveitaram a ocasião para negociar com ele a sua ida para a Bucania, para ficar próximo ao forte dos soldados para controlá-los e impedir que eles continuassem destruindo os acampamentos de mineração que ainda existia. Depois de muita negociação, eles chegaram a um acordo. Cada dono de acampamento ali presente, 31 cederia cinco jagunços dos seus para montar um exército para o Antônio de Souza enfrentar os soldados. Mais o que fez o homem aceitar a proposta, era que todo fim de mês, cada dono de acampamento mandaria para ele na Bucania 10% de tudo que era produzido no seu acampamento de mineração. Como ele era muito ambicioso aceitou. Assim foi que o Rei da Chapada Diamantina veio parar em Grão Mogol. A Chapada era toda dele. E tudo estava devidamente organizado. Cada lugar: fazenda ou acampamento de mineração tinha o seu encarregado.
Os lotes de burros tinham o comando dos tropeiros. Por isso ele tinha certeza que tudo continuaria funcionando corretamente, com o seu afastamento por alguns tempos. A confiança que tinha que tudo continuaria como sempre foi tanto que ele acabou levando com o seu amigo Elpídio. Como a Samira, mãe de Maria Rosa havia morrido, ela acabou indo para a fazenda de seus avós. Lá ela teria com certeza a segurança e conforto que ela iria precisar.
Os seus avós a adoravam e a fazenda era como uma cidade igual até mesmo com Lençóis. Só que lá na fazenda ela poderia contar com a companhia de vários jovens de sua idade filhos das famílias que o seu avô havia trazido de Celta.
Ela sabia que ela iria ficar ali por pouco tempo. É que o Antônio de Souza ao despedir dela, prometeu que iria arranjar as coisas por lá para mandar buscá-la. Porque eles iriam ficar morando em uma gruta onde não havia o menor conforto para levá-la. E assim ele fez depois que se instalou com o seu exército de jagunços na gruta do Quebra Coco.
Ele contratou a construção de uma casa no povoado de Santo Antônio, hoje Grão Mogol, para ela morar.
Ele construiu a melhor casa do povoado, na praça mais nos fundos da Igreja.
A casa tinha o quintal todo murado com muro de pedras, e ia até o rio. Ele providenciou a mudança de seus pertences, principalmente mobílias do quarto que havia vindo da Europa, para sua nova casa. Quando tudo já estava devidamente organizado, ele mandou o seu amigo Elpídio a fazenda Boninal apanhá-la e trazê-la para ele.
Foi uma experiência muito difícil para ela, aquela jornada de 18 dias a cavalo da Boninal à Santo Antônio.
Mais o que a animava é que ela estava indo ao encontro de seu amor. Quando ela chegou a Santo Antônio, o Antônio de Souza a aguardava. Ele acompanhou a sua instalação na nova casa, e só depois que ele estava convencido que ela estava bem instalada, foi que voltou para a sua gruta, onde se encontrava o seu exército de jagunços. Quando seu pai a trouxe da Boninal, trouxe duas jovens negras para ajudá-la e servi-la, era a Antonina e a Maria Preta. Ele trouxe também um rapazola o Elesbão, e ainda a velha Anastácia que havia cuidado dela desde criancinha, a quem ela chamava de mãe Anastácia. Só que a velha senhora não adaptou ao clima frio do Santo Antônio. Aí o Elpídio teve que mandar levá-la de volta a Boninal.
E a vida continuou. Todas as Sexta-feira à tardinha o Antônio de Souza vinha para a sua casa em Santo Antônio e ficava com ela até na 2ª feira de manhã, quando ele regressava a sua gruta. Todos os habitantes do povoado estavam fascinados com a beleza daquela linda mulher.
Ela era alta, elegante, corpo roliço bem torneado de pernas longas e bem feitas, com uma farta cabeleira castanha, com grandes madeixas que emolduravam um rosto lindo, olhos verdes como duas esmeraldas, nariz muito bem feito, boca bonita de lábios carnudos sexuais e um sorriso maravilhoso, que mostrava uma dentadura, de dentes brancos uniformes e que iluminavam mais aquele rosto lindíssimo.
Ela se vestia como uma rainha, e tinha uma postura, e elegância ao andar que parecia uma Gazela. Ela estava sempre cantarolando ou dando risadas. Ficava sempre na sua janela apreciando o movimento da pracinha da Igreja, que agora sempre com muita gente, todas ávidas de curiosidade para vê-la. Ela gostava muito de ler romances. Sentava na janela, de forma displicente como uma criança e se entregava a leitura de seus romances. Apesar daquela situação, de viver com um homem bem mais velho do que ela. Ela aceitava aquilo muito bem. Só que como uma jovem sonhadora, não deixava de sonhar com um príncipe encantado.
Por isso ela acabou apaixonando perdidamente por um oficial português que passava sempre, em seu cavalo pirgaço desfilando pelo povoado, em sua farda bem cuidada, e muita elegância que dava a ele aquele porte de um verdadeiro príncipe. Ele de vez em quando parava em frente a sua janela para trocar um dedo de prosa com aquela bela jovem. Com o tempo cresceu um grande amor entre eles. Mais era um amor platônico, impossível. Ele só ia ao povoado nos dias que o dono dela não estava. Ele sabia o perigo de enfrentar um homem a quem todos temiam porque era uma fera.
Foi aquele amor, inocente e puro, que ela nutria pelo belo e esbelto oficial, que a levou a colaborar com os soldados em uma armadilha para prender o famoso homem. Lá na Bucania os jagunços de Antônio de Souza, mantinha os soldados confinados em seu forte. Quando eles saiam em pequeno grupo para irem ao povoado eles se limitavam em vigiá-los mais se eles se organizavam em um grupo maior dando a impressão que iriam atacar algum acampamento, apareciam jagunços de todo lado, brotando do chão, onde estavam escondidos em buracos e atirando como uns loucos, obrigando os soldados a voltarem para o forte, é que os jagunços atiravam com três ou mais armas já carregadas previamente, porque naquela época as armas eram de carregar pela boca, assim quando eles atiravam, trocavam de arma e atiravam de novo.
Já os soldados trabalhavam com só uma, assim quando atiravam ficavam desarmados até carregar de novo a suas armas. Por isso os soldados temiam tanto os jagunços. Eles não compreendiam como os jagunços podiam fazer aquilo. Quando eles entravam no forte, os jagunços sumiam como que por encanto. É que o Antônio de Souza, só aceitava que eles atirassem nos soldados para machucar, nas pernas, braços nunca para matar, e não podiam atacar o forte, porque o negócio para ele, era prolongar aquela situação indefinidamente porque todo fim de mês ele recebia aquelas remessas de seus aliados, verdadeiras fortunas. Cada dia o seu tesouro aumentava. Com isso os soldados se achavam confinados em seu forte, sem poder mais agir. Foi aí que aquele oficial amigo da Bela Dona, arquitetou um plano para prender o poderoso homem.
Ela deixou que os soldados entrassem no seu quintal, e escondessem ali.
Quando o Antônio de Souza chegou ela o cercou de carinhos. Já com o escuro ela chegou à janela da cozinha e deu o sinal combinado, com uma lamparina acesa. Ela deixou a porta da cozinha aberta e eles entraram e o prenderam ainda sem roupas na cama da mulher.
Eles o vestiram com farda de soldados para despistar e o levaram para o forte. Como prêmio ela ganhou uma prova de amor com a sua paixão. No forte já estava tudo pronto e os soldados saíram com seus cavalos no meio da noite para Cabrália. A noite era de lua clara, o que possibilitou a viagem.
Na 2ª feira de manhã como o Antônio de Souza não apareceu na gruta, o Elpídio foi ao povoado ver o que havia acontecido. Em lá chegando, encontrou a Maria Rosa em prantos. Ela falou para ele que os soldados haviam prendido o Antônio de Souza em sua casa e levado para o forte na 6ª feira. Ele voltou à gruta, reuniu todo o pessoal e foram para o forte, em lá chegando, encontraram tudo abandonado. Decepcionados enfurecidos destruíram tudo e puseram fogo. Depois voltaram para a gruta e fecharam os salões, os corredores, e a entrada principal com parede de pedras, e o Elpídio então mandou todos os jagunços de volta aos acampamentos de seus patrões. Até os 06 jagunços seus e o cozinheiro que ele havia trazido da Chapada ele mandou de volta para lá. Só ele ficou. É que ele queria proteger a sua filha. Ele então passou a morar com ela no povoado. Ele se estabeleceu como um comprador de Diamantes. Os garimpeiros do lugar e redondezas gostaram muito da idéia. É que os compradores de diamantes custavam muito a aparecer no povoado, por isso os garimpeiros estavam sempre apertados, só restavam para eles procurar os tropeiros e negociar com eles. Só que os tropeiros pagavam sempre muito pouco pelas suas pedras. Já um comprador sabia avaliar e pagar um preço justo. Quando ele, o Elpídio, deixou a gruta, ele pegou todos os instrumentos de lidar com os diamantes, e pegou também uma grande quantidade de pedras. Com isso ele fez muito dinheiro. Primeiro comprador que apareceu no povoado não teve condições de comprar dele nem um décimo das pedras que ele tinha. O tempo todo ele procurava convencer a sua filha a voltar para a Chapada. Só que ela não aceitava a idéia. Ela dizia que agora ali era o seu lugar. O Elpídio ensinou para a filha então todos os segredos de um bom comprador de diamantes, e quando ele estava convencido de que ela estava preparada, já pronta, ele voltou para a Chapada.
Ele deixou com ela a balança de precisão com todos os seus presos, a lupa de examinar detalhadamente as pedras, e o mais importante muito dinheiro e muitas pedras de diamante.
E só então partiu para a Chapada.
Ela então passou a ser a compradora de diamantes no povoado. Os garimpeiros e até os tropeiros vinham de longe só para negociar com ela pelo prazer de estar perto dela nem que fosse por alguns minutos. Ela ainda tratava todos eles, com muita gentileza, atenção e respeito, se bem que mantendo certa distância.
Como ela tinha muito dinheiro, e era muito rica, não faltavam recursos para comprar todos os diamantes que chegavam a sua casa. Porque ela atendia em sua casa. Os homens cada dia ficava mais fascinados com a estonteante beleza daquela linda mulher. Como não havia um local decente no povoado, ela passou a hospedar aquelas pessoas mais ilustres. Com isso os compradores de diamantes, que eram sempre europeus, e que vinham ao povoado só para comprar as pedras, passaram a se hospedarem com ela. Entre os compradores de diamantes que visitavam o povoado havia um que era de origem cigana, moreno, alto, elegante e galanteador, acabou conquistando a bela dona. Eles agora tinham que comprar os diamantes nas mãos da Maria Rosa.
Acontecia que as maiorias dos compradores de diamantes que visitavam a região, nunca tinham recurso suficiente para comprar todos os diamantes que ela tinha sempre em estoque. Com isso ela ficava cada vez mais famosa e cobiçada. Esse cigano comprador de diamantes acabou se apaixonando perdidamente por ela.
Ele não escondia a sua paixão pela bela mulher. Quando ele regressava de suas viagens à Europa, ele trazia vários burros carregados só com presentes para ela. Eram lindos vestidos, jóias, sapatos, bolsas, livros os últimos lançamentos do mercado. Roupas de cama, mesa, banho, tudo que poderia tornar a sua vida mais confortável.
Ele agora ficava com ela durante várias semanas. Era comum vê-los sempre juntos passeando pelos locais pitorescos da região. Os dois se amavam perdidamente. Dava gosto de se ver os dois sempre juntos. Só que da última vez que ele deixou o povoado para regressar à Europa, ele nunca mais voltou. Na época corria a versão de boca em boca, se bem a boca pequena, que ele fora assassinado para roubar, já bem perto de Porto Seguro. Nessa época imperava ali na região, um bandidismo muito forte e perigoso, que era acoitado pelos corsários holandeses sediados em Porto Seguro. Tudo que as gangues roubavam era adquirido pelos corsários, sem a menor restrição.
A Maria Rosa caiu em uma profunda tristeza. Aquela moça alegre, risonha, que estava sempre cantarolando ou tocando aquelas músicas alegres do repertório cigano. Agora estava murcha, sem graça, mergulhada em profunda tristeza. Mesmo assim ela continuava com a sua função de compradora de diamantes, atendendo todos com muita gentileza e delicadeza. Os compradores de diamantes europeus também continuaram a se hospedarem com ela, foi aí que apareceu um comprador inglês. Homem de origem fidalga, muito elegante, educado e de boa presença. Ele se espantou ao ser atendido por ela na sua língua o inglês. Onde ele poderia imaginar encontrar num lugar ermo daquele uma dama daquele quilate, e com aquela beleza toda, e ainda falando inglês corretamente, como ela fazia. Ela era muito culta, conhecia os maiores escritores de toda a Europa. Eles tinham muito em comum por isso passaram a ter longas conversas. Isso serviu para aproximá-los ainda mais. E assim em pouco tempo já eram bons amigos. Ele parecia ter esquecido o porquê de sua estada ali no povoado, pois era um jogador, e como tal transformou a sua casa em uma casa de jogos. Toda noite as rodadas de pôquer se estendiam até altas horas. Os garimpeiros mais ricos eram convidados a participarem das rodadas de jogos na sua casa. A maioria ia só com a esperança de vê-la de perto, e falar com ela, quem sabe? E durante muito tempo foi o programa de muita gente no povoado.
O inglês John Wilian até esqueceu de que teria que voltar para a Europa. Essa possibilidade de estar o tempo todo e ainda as noites perto daquela linda mulher, despertou a cobiça em muitos deles. Porque durante aquelas noitadas o inglês estava sempre trocando carícias com a bela Maria Rosa. Aconteceu então que ele resolveu dar mais uma agitada. Sempre que ele viajava as noitadas em sua casa continuavam.
O inglês fez um bem muito grande para ela, que agora estava mais solta, tratando os homens com menos timidez, com mais segurança. Quando o inglês voltava da viagem, ele trazia vários cargueiros só com presentes para ela. E de volta eles se abraçavam, demonstrando muita saudade um do outro. E as noitadas continuavam só que durante as suas últimas viagens o número de participantes dos jogos aumentou bastante, tanto que ela acabou comprando mais seis mesas quadradas com quatro cadeiras cada para os jogadores se acomodarem. Ela continuou cobrando a mesma taxa imposta pelo inglês para cada participante. Os homens a adoravam, e ela agora, lá na sua casa durante as noitadas, recebia cada um deles com um abraço afetuoso, que aqueles mais audaciosos às vezes exageravam um pouco, mais que ela agora já não ligava. Entretanto quando ela estava na rua, ou em outro local público: igreja, ou em alguma festa, ela os mantinha sempre à distância. Ela tratava todos com gentileza, simpatia, mais se mostrava distante. Ela falava que a maior virtude de uma mulher era a distinção. E disso ela não abria mão. O inglês John Wilian então tornou a viajar, e como o cigano, nunca mais deu notícias. Esse as pessoas nem preocupam com o seu sumiço.
Os homens estavam mesmo interessados é que ele não voltasse mesmo mais. Aí aconteceu que apareceu um garimpeiro com várias pedras na sua casa para vendê-la. Quando ela começou a examinar as pedras descobriu que elas tinham sido dela, que ela as conhecia, vez que ela examinava cada uma com a lupa, para ver as características de cada uma.
Ela então mandou o seu garoto, o Elesbão chamar uns amigos dela em sua casa com urgência. Eles vieram e ela falou para eles, o que ela havia descoberto que aquele lote de pedras era do inglês que havia comprado dela, e outras eram dela que o inglês levara para vender. Os seus amigos apertaram o homem que contou que uns indivíduos haviam aparecido em seu garimpo com aquelas pedras para vender, e que ele havia comprado. No negócio havia entrado animais porque ele não dispunha de dinheiro para comprar as pedras todas. Os amigos de Maria Rosa mandaram que ela guardasse as pedras e juntaram um número maior de homens para ir com o tal sujeito até o seu acampamento de mineração para averiguar o ocorrido. Em lá chegando comprovaram que o homem dizia a verdade, então voltaram ao povoado, com ele, trazendo dois dos indivíduos que o haviam vendido as pedras e estavam lá esperando para receberem o restante do pagamento.
No dia seguinte a chegada deles no povoado com os dois indivíduos que acabaram confessando que haviam matado o inglês. Eles os enforcaram fora do povoado, em uma árvore à beira da estrada. O garimpeiro recuperou tudo que era seu, e devolveu as pedras para a Maria Rosa. Dentro do lote das pedras havia algumas que realmente eram dele, ela então comprou, e o caso foi dado por encerrado. Esse garimpeiro com esse incidente tornou mais um amigo da Bela Mulher. Depois desse incidente aumentou as noitadas em sua casa. Ela passou a escolher um dos homens presentes para passar o resto da noite com ela. Cada homem então que freqüentava a sua casa levava um presente para presenteá-la. Cada um levava uma jóia mais bonita. Todos com a mesma esperança de ser o escolhido daquela noite. Cada dia ela ficava mais rica, e importante. No povoado ela era vista como se fosse a rainha do lugar. E ela fazia por merecer. Ela tinha um acordo com um vendeiro do povoado, de toda a semana fornecer feiras para as famílias carentes e os garimpeiros que estavam precisando de feira para voltar para o seu garimpo e trabalhar a semana. Ela tinha uma Sra. do povoado de Dona Hormezinda, que visitava as famílias, para ver de perto a situação de cada uma, e aí ela distribuía uma ordem para o Seu Jacó, fornecer às feiras, e o Juca Bicalho fornecer carne e toucinho. A Maria Rosa só se comunicava com a Hormezinda, o resto era com ela. Ela conferia o valor total das feiras fornecidas e mesmo a conta do açougue e levava a nota a Maria Rosa, que entregava a ela o dinheiro para pagar ao vendeiro e ao açougueiro. Os dois tinham o maior cuidado com esses atendimentos aos protegidos de Da. Maria Rosa. Se houvesse uma reclamação ela poderia mudar de fornecedor, e isso seria péssimo para eles. Quando esses negociantes precisavam de algum dinheiro para reforçar o caixa na hora de comprar um carregamento na mão dos tropeiros, ela emprestava sem cobrar juros. Naquela época gado na região era pouco, por isso ela emprestava ao Juca Bicalho dinheiro para ele sair fora e comprar boiada, e manter o gado no pasto, para abater uma rês por semana.
Sempre na quarta feira, para ter tempo de curtir a carne, para estar pronta no Sábado para atender aos fregueses de seu açougue. O Juca Bicalho tinha fazenda na região do TRAIRA. Outras vezes chegavam tropeiro com 30,50 panos de toucinho, e às vezes a verba em caixa era curta para comprar tudo. No entanto não tinha problema era só correr na casa da. Maria Rosa, e sair de lá com o dinheiro para pagar os tropeiros. Os dois eram muito corretos com a Maria Rosa. Também tinham que ser, quem é que tinha uma madrinha como aquela? A Maria Rosa, era muito generosa com os seus amigos e afilhado, mas era também muito esperta e ninguém passava ela para trás. Ela resolveu conseguir umas moças para trabalhar com ela, visto que ela toda noite, percebia a cara decepção dos homens que não eram escolhidos. Por isso ela conseguiu com os compradores de diamantes europeus seus amigos e que continuavam a se hospedarem com ela, que trouxesse da Europa, para ela moças bonitas, e educadas para ela formar uma turma para alegrar aqueles homens seus amigos. Ela comprou um terreno fora do povoado para montar o seu projeto. Construiu casa, com vários quartos, mobiliou todos eles, mobiliou a casa, cada uma de suas moças tinha seu próprio dormitório. Comprou um trole, para toda tarde ela deixar o povoado e ir para lá, por que ela administrava tudo pessoalmente. Ela trouxe músicas de fora para tocar lá na Chácara, aquilo ali ficou muito bom. Nos domingos aquilo parecia um campo de nudismo. Com todos tomando banho no rio Itacambirucú nos fundos da Chácara. Para garantir a privacidade deles, ela colocava vários homens vigiando a região para impedir que algum indesejável, ou mesmo adolescente aproximasse do local. Cada dia chegava mais moças para sua Chácara. Ela teve que ficar com algumas em sua casa para aguardar enquanto construía novas instalações na Chácara. Quando chegava à tardinha o trole levava as meninas para lá, e quando o movimento o diminuía trazia elas de volta. O seu cocheiro era o seu garoto o Elesbão. Quando a Chácara estava organizada, ela deixou tudo lá a cargo de uma das moças, a Ambrozina. Agora a Ambrozina é que administrava tudo por lá. Ela então se recolheu a sua casa no povoado, lá na sua casa agora ela só recebia os garimpeiros para continuar a comprar os diamantes. Ela ajudou uma família sua amiga a instalar em sua casa uma hospedaria, para hospedar as pessoas que freqüentavam o povoado.
Porque agora ela não hospedava mais ninguém. Ela ajuntou com outras senhoras do povoado, e transformaram as acomodações do fundo da igreja, em uma espécie de hospital para atender as pessoas velhas e doentes, desamparadas do povoado. Quando o seu mine hospital estava funcionando ela acabou tendo que hospedar o padre em sua casa, porque as acomodações do fundo da igreja eram justamente para hospedar o padre quando ele vinha ao povoado. Esse padre era de origem de uma família nobre Italiana, moreno, alto, um homem muito bonito, mais que tinha uns olhos negros profundos e tristes. Esse padre se encantou com a Maria Rosa. Normalmente o padre ficava no povoado no máximo uma semana. Agora parece que esqueceu de ir embora, já estava lá há mais de mês. E ele monopolizava a mulher só para ele, o que deixava os homens do povoado revoltados, doidos de raiva, e assim expulsaram o padre do lugar. Ela era muito culta e tocava violino muito bem. Ele levou-a a tocar durante as missas e celebrações. Ela pagava tudo. Ela mandou construir uma grande área coberta de telhas para os tropeiros acamparem, e transformou uma área de sua Chácara em uma manga para soltarem seus animais e os tropeiros soltarem os seus também.
Ela para evitar a repetição do ocorrido, ela mandou construir uma casa apropriada para instalar ali o seu mine hospital, que ela dizia ser o Abrigo.
Ali os velhos e doentes tinham aquilo de melhor que era possível dar naquela época. Não obstante ela procurava cercar aquelas pessoas de carrinho, respeito, e ainda exigia que aquelas pessoas ali, tinham que ter tudo aquilo que a vida tinha negado para eles até então. A dona Hormezinda é que comandava tudo por lá. Ela tinha um acordo com um seu amigo de muitos anos, o Coronel Nascimento da Curiacá, que fornecia o leite que ela precisava todos os dias para alimentar os seus protegidos, e produzir o mingau que ela distribuía todos os dias para as mães pobres alimentar os seus filhos pequenos. Ela era uma verdadeira mãe para os pobres do povoado e adjacência.
O negocio de diamantes naquela época era muito rendoso, ela ganhava muito dinheiro com o comércio de diamantes. Por isso ela era uma espécie de dona do povoado. Ela pagava tudo. Ela pagava as zeladoras da igreja, para manter aquele lugar sempre limpo e arrumado. Ela comprava as velas, e as flores para enfeitar a igreja, “a casa de Deus”, como ela gostava de falar. Nas festas do padroeiro, ela comprava os fogos, para levantar o mastro. Ela mandava construir as barraquinhas para as pessoas de o comércio instalar as suas quitandas para vender café, guloseimas: bolos, biscoitos, doces durante as quermesses da novena do padroeiro. Aquelas pessoas que não dispunham de recursos para se instalar a sua quitanda recorriam a ela, que emprestavam o dinheiro que elas precisavam.
Naquela época era costume que a família que iria patrocinar a bandeira no ano seguinte, roubasse a bandeira durante a noite. E só na festa do ano seguinte, é que iria saber quem seria o festeiro. O festeiro apanhava como a Dona Maria Rosa, os fogos que ela havia comprado, e ficava encarregado de soltá-los. E foi sempre assim a Maria Rosa é quem pagava tudo. Por tudo isso todas as pessoas a adoravam. Ela agia como se o povoado fosse realmente dela. E ninguém tomava nenhuma decisão sem primeiro ouvi-la.
Ela se tornou a pessoa mais importante de toda aquela região. Os homens a amavam.
A população do Comércio de Santo Antônio, a respeitava e a considerava. Ela era constantemente convidada para as festas mesmo as mais íntimas. Para eles a presença de Maria Rosa era indispensável. Ela era madrinha de várias crianças do povoado e região e era também madrinha de casamento de vários casais. Quando ela deixou de ir à Chácara, que na época foi batizada de Jambeiro por causa de uma grande árvore desse fruto que tinha no local, e passou o comando da coisa lá, para a sua moça a Ambrozina, ela se afastou completamente da vida mundana. A única coisa que ela agora ainda fazia, era o comércio de diamantes, ela continuava como a compradora de diamantes do povoado. Mais não hospedou mais ninguém. Concentrou-se nos trabalhos sociais. Ela distribuía feiras para as pessoas carentes, ela cuidava de velhos e deserdados da sorte no seu Abrigo, onde ainda distribuía mingau para as mães carentes alimentar seus filhos pequenos. Existia no povoado já há muito tempo, uma mulher de idade, e origem desconhecida, que era sempre vista pelas ruas do povoado vendendo raízes e ervas. É que ela sabia os segredos das plantas que o “Todo Poderoso” colocara no mundo para aliviar o sofrimento daqueles que sofriam. Ela era conhecida pelo nome de Coló. Quando ela começa a cuidar das pessoas carentes e velhas do povoado, a Coló se transformou na médica do hospital improvisado nos fundos da Igreja.
Desde então a Coló se transformou a partir de então em uma das amigas mais queridas de Maria Rosa. Como o espaço nos fundos da Igreja era muito pequeno ela providenciou construir uma casa apropriada para funcionar o seu mini-hospital que ela chamava de abrigo. Nessas novas instalações a Coló ganhou um local só dela, com todo conforto possível naquela época. Todos do povoado passaram então a tratar a Coló com toda consideração de acordo com a orientação que era dada pela Dona Maria Rosa. Com o tratamento que a Maria Rosa dava à Coló, ela adquiriu um status de uma verdadeira médica. Antes ela andava vestida com roupas surradas esfarrapadas. Agora ela vestia roupas novas bem cuidadas que a Maria Rosa providenciava e ela andava calçada, e tinha bolsas próprias para carregar os seus remédios. Ela era uma pessoa tão especial que agora que ela tinha tudo que precisava porque a Maria Rosa não deixava faltar nada para ela. Ela então passou a distribuir as suas raízes e ervas para a população sem cobrar nada. Só que agora ela não andava mais pelas ruas, ela atendia as pessoas lá no abrigo, em uma sala especial onde fazia as consultas das pessoas. Ela também benzia criancinhas com quebrante, também lá no abrigo. Quando terminava o seu estoque de raízes e ervas, ela ia pro mato fazer nova coleta desse material. Só que agora ela levava suprimento para não passar fome pelo mato. Ela começou a pedido de Maria Rosa, ensinar às outras pessoas que trabalhavam no abrigo, a identificar cada erva e raiz, e saber para que cada uma delas servia. Uma senhora do povoado Maria Pequena, foi quem mais desenvolveu no setor.
Um dia a Coló saiu cedo pro mato para como de costume, coletar plantas. Ela saiu tão cedo que ninguém viu, era madrugada mesmo. Só que não voltou para o almoço, não voltou para jantar nem para dormir. No outro dia cedo a Hormezinda, responsável pelo Abrigo foi à casa de Maria Rosa avisá-la do sumiço da Coló.
Da. Maria Rosa foi até a Igreja e mandou que batessem o sino. O povo correu para a Igreja para ver o que se passava. Maria Rosa avisou do sumiço da Coló e pediu a todos que procurassem por ela. E muita gente saiu à procura de Coló. Mais a noite veio sem, no entanto ela ter notícias de sua amiga querida. Só dois dias depois, chegou um tropeiro dando notícias dela deitada no mato no caminho de ventania. Ela estava viva, mais muito mau. Da. Maria Rosa organizou então um grupo de homens para ir buscá-la. Ela teve que vir na rede, pois não existiam estradas naquela época, sós trilhas caminhos. Ela foi trazida para o abrigo, ainda viva.
Da. Maria Rosa cercou Coló de toda atenção e carinhos. Eles fizeram tudo que era possível para tentar salvá-la. Mais a Coló estava com uma pneumonia brava. Ela havia tomado muita chuva e passado muito frio lá no mato. Tudo que foi feito só serviu para a Coló morrer cercada do carinho das pessoas que realmente a amavam. O Todo Poderoso fez a parte dele. É que coincidiu que o padre estava no povoado quando ela começou a piorar. O padre deu a estremaunção para a Coló. Ela teve missa de corpo presente na Igreja, e o seu sepultamento e velório foi acompanhado por muita gente. Ela fez muita falta, entretanto a Maria pequena procurava com toda boa vontade suprir aquela lacuna aberta com a morte de Coló. A sorte que a maioria dos doentes que iam para o abrigo, na realidade estavam desnutridos, por passar muita fome. O tratamento que todos recebiam no abrigo era muito bom. Tinha muita fartura de frutas, e leite, e a alimentação era de 1ª. Maria Rosa repetia sempre, que os seus protegidos ali, deveriam ter tudo de melhor que a vida havia negado para eles até então.
Esse ano não foi nada bom para Maria Rosa. Primeiro morreu Coló, agora morreu o Seu Juca Bicalho, tempo depois morreu o Seu Jacó. E por último outro seu amigo querido, o Cel. Nascimento da curiacá. O Cel. Nascimento era um de seus amigos mais antigos. As más línguas falavam até que tinha em romance entre eles. Entretanto isso nunca foi comprovado. O que todo mundo via era uma verdadeira amizade entre os dois. Ele estava sempre em sua casa, no povoado visitando-a, era o único homem da redondeza que tinha acesso à sua casa, e era recebido com toda atenção e afeto da Maria Rosa sempre que aparecia por lá. Ninguém tinha mais afinidade com ela como o Cel. Nascimento.
O velório do Coronel Nascimento foi lá na Curiacá. Maria Rosa foi para lá. Passou a noite no velório. Noite de chuva fria e manhosa. Maria Rosa já estava bastante debilitada por causa dos diversos baques que ela tinha sofrido nos últimos dias. Parecia também que ela havia perdido a vontade de viver. Quando ela voltou da Curiacá, depois do enterro de seu amigo querido. Ela deitou em seu quarto e ficou sem receber ninguém por vários dias. Só que além da prostração ela estava muito gripada. E ela foi só piorando. A gripe acabou se transformando em uma pneumonia. Os amigos cercaram-na de atenção e carinho, até o seu último suspiro. A morte de Maria Rosa foi um acontecimento que deixou todo o povoado em comoção. O seu velório foi na Igreja e todas as pessoas da região estavam no povoado. Todos queriam dar o seu último adeus, aquela mulher querida.
O seu enterro foi uma verdadeira apoteose. Durante o velório as pessoas choravam, umas querendo consolar as outras.
Até parece que aquela gente estava realmente prevendo o caus que iria abater sobre o povoado depois da morte daquela valorosa mulher.
As meninas da Chácara foram todas embora. O Abrigo ficou abandonado. Sem Maria Rosa para pagar tudo por lá, não teve como continuar a funcionar. Só a sua fiel amiga Hormezinda continuava lá. Na Chácara só ficou a Ambrozina. Na sua casa, na Praça da Igreja, ficaram o Elesbão e as duas serviçais, a Antonina e a Maria Preta com seus filhos porque o Elesbão havia feito filho nas duas.
A Maria Rosa não deixou herdeiros. Tudo que ela tinha ficou para aquelas pessoas que sempre viveram com ela. Mais a boca pequena se falava de pessoas que deram bem, com suas jóias, diamantes e dinheiro.
Entretanto ela deixou uma herança para todos aqueles que tinham tido o privilégio de conviver com aquela linda mulher.
Foi a lembrança daquela mulher forte magnânima, e magnificamente bela, que tinha o dom de iluminar qualquer ambiente aonde ela chegava com a sua beleza estonteante aliado aquele porte elegante, de uma verdadeira rainha.
Ela estava sempre vestida com lindos vestidos vindos da Europa, adornada com lindíssimas jóias.
Maria Rosa foi a Rainha daquele povoado de Santo Antônio, hoje Grão Mogol.
Entretanto hoje na cidade não existe nada que lembra a sua moradora mais importante e querida.
A sua casa está lá, mais habitada por uma família que não tem nada a ver com ela.
Entretanto se você chegar hoje em Araxá, vai encontrar lá: o sobrado de Beija transformado em museu, assim como a sua Chácara do Jatobá.
Em Laguna, a casa de Anita Garibaldi.
Em Diamantina a casa e a igrejinha de Chica da Silva.
Em Ouro Preto a casa de Marília de Dirceu.
Só Grão Mogol não homenageou a sua Rainha.
Isso é ignorância, desinformação de seus governantes.
A casa de Maria Rosa deverá ser transformada em um museu mostrando como eram as casas habitadas pelas pessoas naquela época.
Está na hora de cuidar da história daquele lugar.
A pedra rica deverá receber um pedestal, e ser colocada em uma praça criada para ela, com uma placa contando a sua história.
A Igreja deverá receber uma placa grande em pedra mármore, ardósia ou mesmo concreto registrando as datas de sua construção: 1.513, início da construção, 1517 celebração da 1ª festa de Santo Antônio já dentro da Igreja, já levantada e coberta, 1525 inauguração da Igreja já totalmente pronta.
Apanhar o acervo existente dentro da gruta do Quebra Coco, ou gruta do Souza, e montar no Jambeiro o museu do Garimpeiro, e Tropeiro, que garanto, será o maior do Brasil, porque ninguém terá um acervo maior e mais rico.
Transformar aquelas areias da várzea do quartel, reconstruindo ali o forte dos soldados portugueses do exército de D. João III (1.536).
Grão Mogol tem tudo para ser a cidade histórica mais importante do país. Só depende de seus governantes.
A minha esperança está nessa geração de filhos de Grão Mogol, que saíram para estudar fora e agora estão voltando.
Esses é que irão ressuscitar aquela cidade para o turismo nacional.
Porque não tem atrativo maior para o turista do que a história.
E Grão Mogol é riquíssima em sua história que começou com sua fundação em 1.503, por um grupo de garimpeiros autônomos que fundaram ali o seu acampamento coletivo, o povoado de Santo Antônio, hoje Grão Mogol.
* josegmendonca@gmail.com
sexta-feira, 1 de maio de 2009
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